O que o metanol ensina sobre comprar vinho do “contatinho do WhatsApp”
Compra corriqueira de vinhos por meio de intermediários pode levar risco à saúde
Os recentes casos de adulteração de bebidas alcoólicas com metanol, principalmente destiladas, mostram por que se deve prestar bastante atenção à procedência do local em que você compra ou consome.
Segundo a Vigilância Sanitária de São Paulo, pelo menos onze casos foram confirmados por intoxicação por metanol no estado. As informações apontam que os indivíduos consumiram a bebida “in natura” ou em drinques em estabelecimentos comerciais que funcionam normalmente na cidade.
Já as bebidas eram compradas por intermediários e falsificadores, produzidas em fábricas clandestinas e rotuladas com marcas conhecidas. É nesse contexto que entra a velha máxima: “o barato sai caro”.
Até o momento não se constatou nenhum caso de vinho adulterado, mas é importante ressaltar que o consumidor que costuma comprar direto “do contatinho” pode estar à mercê de irregularidades.
Para termos noção, até um vinho importado chegar à sua mesa é necessário um processo longo de adequação tributária — cerca de 50% do preço final — além de um desafio logístico com o translado em contêineres climatizados — afinal, temperatura importa. É claro que tudo isso gera custos, e esses valores impactam no preço de venda.
O mesmo não costuma ocorrer com as bebidas comercializadas pelas famosas “listas de transmissão”. Nesse caso, os vinhos são geralmente comprados diretamente no país de origem e trazidos pela fronteira por meios irregulares, configurando crime de descaminho.
A estimativa é que esse tipo de comércio movimente até R$ 2 bilhões por ano no mercado ilegal, além de aproximadamente R$ 1 bilhão de evasão fiscal, segundo o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF).
De acordo com Christian Burgos, empresário e diretor da ProWine São Paulo, a cada dez garrafas de vinho que entram no Brasil, aproximadamente 1,5 é ilegal.
Para as vinícolas brasileiras, o descaminho ainda é o “pior concorrente”, porque além de não pagar tributos, prejudica toda a cadeia ligada à indústria vitivinicultora.
Uma boa dica para se certificar de que o vinho que você está comprando foi trazido de forma legal para o Brasil é verificar o contrarrótulo. A legislação obriga que as informações estejam em português. Caso você encontre outro idioma, desconfie.
Na prática, a alta carga tributária para a comercialização do vinho no Brasil frente a outros países é o que fomenta o crescimento do descaminho — e, indiretamente, coloca o consumidor em risco quando opta pelo “atalho” do contrabando.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia
Sobre Stêvão Limana

Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pós-graduado em enologia, postulante a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV, fala sobre política e eleições, enquanto na internet foca em vinhos e gastronomia.